Em tempos de pandemia, muitas são as medidas de higiene que devemos tomar para evitar ao máximo a propagação do coronavírus, que não é o único vírus em circulação: iniciando o inverno, ficamos mais preocupados com as doenças respiratórias e com a maior proliferação de bactérias que podem causar desde uma simples dor de garganta até problemas muito mais graves.
Criamos barreiras físicas para o vírus, como as máscaras ou os filtros de ar dos carros, que circulam com os vidros fechados usando somente a ventilação artificial, para evitar circulação do ar nas ruas. Nos distanciamos das pessoas e redobramos os contatos com a higiene. Porém, há aqueles materiais e produtos que não podem ser higienizados com sabonete ou com etanol, como os alimentos.
A radiação pode se apresentar como uma alternativa para higienizar/esterilizar esses produtos, sendo razoavelmente fácil encontrar em sites de vendas lâmpadas ultravioleta que prometem eliminar os vírus e as bactérias de todo um ambiente. Isso é mesmo realidade? Sendo real, até que ponto podemos confiar em uma lâmpada para eliminar vírus e bactérias de um ambiente?
Falando um pouco sobre radiação
Na física, chamamos de radiação toda emissão de energia na forma de ondas eletromagnéticas: o sinal do seu roteador, do rádio, da TV, todas as informações que chegam aos nossos olhos, os raios-X usados nos exames e muito mais. Porém, podemos, para fins de simplificação, dividir o espectro eletromagnético em duas partes: radiação não ionizante e radiação ionizante.
A radiação não ionizante é aquela cujas ondas não tem energia suficiente para ionizar átomos: não conseguem quebrar ligações químicas, causando, por exemplo, danos a tecidos animais ou vegetais. Nessa faixa de frequências entram as microondas, ondas de rádio e TV, o infravermelho, o espectro visível e uma parte da radiação ultravioleta, no caso o UVA.
A radiação não ionizante, embora não tenha energia suficiente para romper ligações químicas ou ionizar gases, carrega energia como qualquer onda. Por isso, também pode causar danos a pessoas, especialmente nas frequências mais altas, como o UVA, que causa queimaduras na pele e pode causar câncer de pele a longo prazo.
Por outro lado, a radiação ionizante tem capacidade para quebrar ligações químicas e causar danos graves células e tecidos de seres vivos e ionizar gases e outros materiais. A radiação ionizante pode ser usada para realização de exames e também para tratamento de doenças ou para a irradiação de alimentos, por matar virtualmente todos os seres vivos com os quais interage em um curto período de tempo.
Fazem parte desse conjunto de ondas parte do ultravioleta (UVB e UVC), os raios-X e a radiação gama, amplamente usada no processo de irradiação de alimentos, que prolonga o prazo de validade sem o uso de aditivos químicos. A radiação ionizante que chega à Terra interage com os gases nas camadas superiores da atmosfera, em especial com o ozônio, não chegando à superfície. Isso apenas não é totalmente verdade para o UVB, responsável pelo envelhecimento precoce causado pela exposição em excesso à luz solar.
Então, a luz negra pode eliminar bactérias e vírus?
Os primeiros usos da luz UV no combate a bactérias e vírus aconteceram nos EUA, na década de 1940, durante um surto de varíola: as lâmpadas UV foram usadas em salas de aula e reduziram muito a quantidade de estudantes que contraíram a doença, tendo, portanto, efeito contra o vírus da Varíola. Desde então esses sistemas têm sido comercializados como lâmpadas bactericidas.
O conjunto de frequências chamadas de UVC, que vai desde os 280 nm até 100 nm é utilizado como desinfetante em sistemas de tratamento de água e outras aplicações por ter boa eficácia na eliminação de bactérias, isso porque essas frequências conseguem causar danos às bactérias a nível de DNA, matando-as.
Porém, para que a exposição à radiação seja capaz de eliminar um microrganismo, é necessária determinada dose, que varia de acordo com a frequência da radiação (quanto mais alta mais eficaz), da intensidade da radiação (o quão forte é a fonte radioativa) e também do tempo de exposição.
Isso não quer dizer que outras faixas de frequências do UV, como o UVB e mesmo o UV próximo não sejam eficazes contra vírus e bactérias, apenas significa que, para que funcionem, precisam de um maior ou menor tempo de exposição no ambiente. Porém, diferente da radiação UVC, UVA e UVB podem causar lesões em tecidos humanos a curto prazo e podem ser usadas não somente contra o coronavírus mas também contra outras doenças causadas por vírus ou bactérias.
Referências/leituras importantes para aprender mais
http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2008/anais/arquivosINIC/INIC0137_07_A.pdf
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